sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Colapso em Atletas de Endurance

PONTOS PRINCIPAIS



- A natureza da maioria dos casos de colapso é benigna e esses acontecem depois que o atleta cruza a linha de chegada e pára de se exercitar. Aqueles que apresentam esse problema antes da chegada são mais propensos a apresentar um problema mais grave.


- Atletas que se mantêm acordados e alertas depois do colapso têm menor probabilidade de ficar gravemente doente que aqueles que apresentaram redução do nível de consciência.


- Na avaliação do atleta, é fundamental verificar os sinais vitais (principalmente a temperatura retal, se houver suspeita de insolação), avaliar o estado de hidratação (desidratado x sobrecarga de líquidos) e solicitar a realização de exames laboratoriais (glicemia e sódio sangüíneo), quando necessário.


- A causa benigna mais comum do colapso é a queda da pressão arterial devido ao acúmulo de sangue nos membros inferiores após a interrupção do exercício, assim como na hipotensão postural, exaustão pelo calor ou síncope. Trata-se esse problema elevando os pés e a pelve até que os sintomas melhorem.


- A causa grave mais comum do colapso é o baixo nível de sódio sangüíneo (hiponatremia), geralmente associado à reposição excessiva das perdas pelo suor com líquidos contendo pouco ou nada de sódio. Atletas com hiponatremia que parecem apresentar sobrecarga de líquidos não devem receber líquidos por via intravenosa.


- A insolação é uma rara causa de colapso, mas pode ser fatal se não for diagnosticada e tratada precocemente com imersão em água gelada para que se consiga um resfriamento rápido.


INTRODUÇÃO


O colapso é talvez o mais dramático entre os problemas médicos que acometem os atletas. Embora possa ocorrer em qualquer evento esportivo que exija esforço máximo, é mais comum em eventos de endurance, tais como a maratona e o triathlon. A incidência parece aumentar de acordo com aumentos na distância da corrida, temperatura e umidade do ar. (O'Conner e col., 2003).


Nos eventos de endurance, aproximadamente 85% dos casos de colapso acontecem depois que o atleta cruza a linha de chegada (Holtzhause & Noakes, 1997). A maioria desses casos é benigno e o atleta não apresenta conseqüências prejudiciais permanentes, mas em alguns casos isso pode ser grave e fatal. Por esse motivo, a equipe médica que atende os eventos de endurance ou esses atletas deve conhecer a avaliação e o tratamento adequados do atleta que sofreu colapso, o que pode, algumas vezes, fazer a diferença entre a vida e a morte.


REVISÃO DOS ESTUDOS CIENTÍFICOS


Definição de colapso associado à prática de exercícios


O colapso associado ao exercício pode ser definido como a incapacidade de caminhar sem auxílio, com ou sem exaustão, náuseas, vômitos ou cãibras. (Holtzhause & Noakes, 1997; O'Conner e col., 2003). Um atleta com esse problema pode apresentar temperatura corporal normal, elevada ou baixa. Para os objetivos deste artigo, o colapso relacionado ao exercício exclui as condições traumatológicas tais como lesões no joelho ou no calcanhar que poderiam potencialmente evitar que o atleta caminhasse sem auxílio, mas isso seria claramente distinto das formas mais tradicionais de colapso.


As condições que costumam provocar o colapso associado ao exercício são relativamente poucas em número e podem geralmente ser agrupada como problemas benignos e graves. As causas benignas mais comuns incluem a exaustão, a hipotensão postural, a desidratação e as cãibras musculares. Causas graves incluem a hiponatremia, insolação, hipoglicemia, hipotermia, parada cardíaca e diversas outras situações médicas.


Avaliação do atleta que sofreu um colapso em campo


A avaliação inicial desse atleta em campo deve começar com uma rápida avaliação do grau de consciência do atleta. Se estiver acordado e alerta, é provável que a causa seja benigna. Aqueles que apresentam diminuição do grau de consciência devem ser avaliados para se verificar a necessidade de suporte vital cardíaco avançado. O restabelecimento da permeabilidade das vias aéreas, da respiração e da circulação é a principal prioridade. Os sinais vitais, incluindo a temperatura retal, freqüência cardíaca e pressão arterial devem ser medidas as mais rápidas possíveis. O momento em que o colapso ocorreu indica possível gravidade; aquele que ocorre depois que o atleta termina uma prova é de menor preocupação que aquele que acomete o atleta antes da linha de chegada.


História


Técnicos, preparadores físicos, pais, outros atletas geralmente conseguem oferecer informações importantes que ajudam na avaliação do atleta.


As perguntas importantes incluem as seguintes:


1. Quanto e qual tipo de líquido foi ingerido durante a prova? A resposta a essa pergunta pode indicar desidratação, hiponatremia ou hipoglicemia.


2. Qual o volume de urina eliminado durante a prova? Atletas que ficam desidratados de maneira significativa provavelmente não urinarão.


3. O atleta apresentou vômitos ou diarréia durante a prova? Se sim, isso contribuiria para a desidratação.


4. Quanto carboidrato foi ingerido antes e durante a prova? A ingestão inadequada de carboidratos pode causar um baixo índice de açúcar no sangue (hipoglicemia), principalmente em atletas diabéticos.


5. Alguma doença ou necessidade recente de medicamentos (Tabela 1) que pudesse ter comprometido a tolerância ao calor ou o equilíbrio hídrico?


6. O atleta estava bem-treinado e preparado para a competição? Há maior probabilidade do colapso ocorrer se o preparo não for adequado.


7. O atleta apresentou algum sintoma, tal como dor torácica, palpitações, náuseas ou falta de ar, que pudesse indicar a existência de um quadro médico subjacente como causa do colapso?


TABELA 1. Medicamentos que podem ter um efeito adverso na termorregulação.


- Anticolinérgicos


- Anti-histamínicos


- Beta-bloqueador


- Diuréticos


- Inibidores da monoamina oxidase (MAO)


- Fenotiazidas


- Antidepressivos tricíclicos


- Drogas de Abuso


- Bebidas com alto teor alcóolico


Exame


O exame de atletas que tiveram um colapso deve incluir a monitoração contínua dos sinais vitais do atleta. A freqüência cardíaca e a pressão arterial devem ser medidas com o atleta em pé e deitado. O aumento da freqüência cardíaca em 20 batimentos por minuto ou a queda da pressão sistólica em 10 mm Hg, avaliadas com o indivíduo em pé, sugere uma depleção significativa da volemia e provável desidratação. Lembre-se que a maioria dos atletas de endurance apresenta freqüência cardíaca de repouso bem baixa e 80 batimentos por minuto pode representar taquicardia (Mayers & Noakes, 2000; O'Conner e col., 2003). Atletas com redução da função mental devem ter a temperatura retal medida para que se exclua a insolação. (A mensuração da temperatura no ouvido ou na boca não oferece uma avaliação precisa da temperatura corporal central). A temperatura retal acima de 40° C exige medidas imediatas de resfriamento.


O estado de hidratação do atleta pode ser avaliado com perguntas sobre a sede e a capacidade de cuspir (Holtzhause & Noakes, 1997; O'Conner e col., 2003). Os atletas desidratados sentirão sede e terão dificuldade para produzir saliva se estiverem gravemente desidratados. Além disso, a textura da pele pode estar diminuído em atletas gravemente desidratados, ex.: a pele pode parecer flácida. Por outro lado, os atletas que estão hiper-hidratados podem parecer estar e sentir-se inchados. Podem alegar que anéis, relógios, sapatos e pulseiras de corrida estão mais apertados que antes da corrida. Em casos graves de sobrecarga de líquidos, pode-se perceber o edema nas pernas. Isso é geralmente associado a baixos níveis de sódio sangüíneo (hiponatremia). O peso corporal antes e depois da prova é uma medida útil da condição hídrica. Uma perda de 2 a 5% no peso corporal indica desidratação, ao passo que o ganho de peso sugere sobrecarga de líquidos.


Exames laboratoriais


O atleta que apresentou colapso deve realizar alguns exames laboratoriais importantes, tais como glicemia e sódio. A hiponatremia é a causa mais comum do colapso grave do atleta de endurance. A capacidade de avaliar os níveis de sódio rapidamente é crítica para que isso seja diagnosticado e para ajudar a oferecer o tratamento adequado. A hipoglicemia, apesar de ser menos comum, pode provocar mudanças significativas no nível de consciência e até mesmo o coma, que pode ser rapidamente corrigido pela administração oral ou intravenosa de glicose.


Classificação da gravidade do colapso em atletas


As causas do colapso na grande maioria dos atletas são benignas (Holtzhause & Noakes, 1997; Mayers & Noakes, 2000; Sandell e col., 1988). De acordo com Bently (1996) e O'Conner e col. (2003), resultados que sugerem uma causa benigna do colapso incluem:


1. Atleta está consciente e alerta.


2. A temperatura retal está acima de 35° C, mas abaixo de 40° C.


3. A pressão arterial sistólica está acima de 100 mm Hg e a freqüência cardíaca menor que 100 batimentos por minuto.


4. Glicemia entre 70-180 mg/dL e a concentração de sódio, entre 135-148 mg/dL.


5. A perda de peso é menor que 5%.


As causas graves mais comuns do colapso no atleta incluem hiponatremia, hipoglicemia, insolação, parada cardíaca e diversas outras condições médicas, incluindo convulsões, hemorragia cerebral e coma diabético. Bently (1996) e O'Conner e col. (2003) listam os seguintes achados que sugerem uma causa mais grave do colapso:


1. Inconsciência ou alteração mental (confuso, desorientado ou agressivo).


2. Temperatura retal acima de 40° C ou abaixo de 35° C.


3. Pressão arterial sistólica menor que 100 mm Hg e freqüência cardíaca acima de 100 batimentos por minuto.


4. Glicemia menor que 70 mg/dL ou acima de 180 mg/dL; concentração plasmática de sódio menor que 130 mEq/L ou acima de 148 mEq/L.


5. Perda ou ganho de peso acima de 5% do peso corporal. (A perda de peso indica desidratação e o ganho de peso sugere sobrecarga de líquidos de risco de hiponatremia).


Causas do colapso no atleta de endurance


Hipotensão postural (exaustão pelo calor ou síncope)


A hipotensão postural (redução da pressão arterial na posição ereta) tem sido denominada de exaustão pelo calor ou síncope pelo calor sendo uma das causas mais comuns do colapso, que geralmente acontece depois da linha de chegada e é raramente grave o suficiente para causar a hospitalização. Provavelmente é causada pelo acúmulo de sangue nos vasos dilatados da pele e dos membros, principalmente das pernas e pela diminuição do bombeamento pelos músculos da parte inferior das pernas após o término do exercício (Holtzhause & Noakes, 1997; O'Conner e col., 2003; Sandell e col., 1988). A desidratação e a conseqüente redução da volemia aumentam o risco da hipotensão postural, mas não há evidencia que a hipotensão postural irá progredir para insolação. Esse tipo de hipotensão é provavelmente a causa se a temperatura retal for menor que 40° C, a freqüência cardíaca for menor que 100 batimentos por minuto e a pressão sistólica for maior que 100 mm Hg, desde que essas medidas tenham sido tomadas com o atleta em decúbito dorsal. Para tratar esse quadro, elevam-se pés e pelve por 10-20 min até que a circulação normal seja restabelecida. Os atletas devem receber líquidos orais de acordo com sua tolerância. Soluções de reidratação oral ou bebidas esportivas que repõem eletrólitos e carboidratos são melhores que água. Alguns atletas podem precisar de líquido intravenoso, se houver sinais de desidratação grave.


Cãibras musculares


As cãibras musculares são comuns em praticamente todas as atividades esportivas mais longas. Podem surgir durante ou depois da repetição de exercícios realizados no calor, frio ou na água. As cãibras tendem a ser mais comuns e mais graves quando se realiza exercício intenso em ambientes quentes e úmidos. Em alguns indivíduos, cãibras graves e recorrentes são associadas com a anemia falciforme e sugerem risco de morte súbita relacionada ao exercício.


Evidências atuais mostram duas etiologias comuns para a cãibra muscular relacionada aos esportes, por exemplo, a fadiga muscular provocada pela demanda excessiva dos mesmos e depleção de sódio (Bently, 1996; Miles & Clarkson, 1994). A fadiga muscular induzida pela demanda excessiva dos mesmos geralmente provoca cãibras menos graves e mais localizadas. A perda de sal, por outro lado, geralmente causa cãibras mais graves que acometem o corpo todo. O tratamento inicial das cãibras musculares relacionadas aos esportes é manter os músculos afetados alongados. A aplicação de gelo e/ou massagem pode ser útil para diminuir os sintomas de cãibras agudas. As cãibras causadas pela fadiga muscular tendem a ocorrer no início da temporada quando a forma física dos atletas não é a melhor ou quando estão envolvidos com atividades extenuantes incomuns. A ingestão elevada de sal pode ser útil na prevenção de cãibras graves, que envolvem o corpo todo e que apresentam recidivas freqüentes.


Desidratação


A desidratação pode ter uma série de efeitos prejudiciais no atleta, que podem comprometer o desempenho e aumentar a probabilidade do colapso (American College of Sports Medicine, 1996; Casa e col., 2000). A desidratação causa redução da volemia, tornando o atleta mais suscetível à hipotensão postural e colapso. A baixa volemia também está associada à redução do volume de ejeção cardíaco que resulta na redução do fluxo sangüíneo para a pele, com efeito negativo na dissipação do calor. Atletas desidratados podem apresentar temperatura retal maior que a de atletas em estado de hidratação normal. A desidratação reduz o tempo que o exercício pode ser sustentado antes que haja fadiga induzida pelo calor e eventual colapso. Os sinais e sintomas da desidratação grave incluem sede intensa, boca seca e dificuldade de produzir saliva. Resultados no exame físicos consistentes com a desidratação incluem freqüência cardíaca aumentada, pressão arterial reduzida, perda de peso e pele flácida.


O tratamento do indivíduo desidratado deve começar com soluções de reidratação oral ou bebidas esportivas se o atleta não estiver vomitando e tiver perdido menos que 5% do peso corporal. Deve-se oferecer líquidos intravenoso se os atletas não conseguirem tolerar líquidos orais ou o nível de desidratação for superior a 5%.


Hiponatremia induzida pelo exercício


A hiponatremia é a causa grave mais comum do colapso associado ao exercício. Geralmente é causada pela reposição do suor relativamente hipertônico com um líquido hipotônico que contém pouco ou nenhum sódio. Costuma ser observada em provas mais longas de endurance e é mais comum em mulheres, corredores de baixa velocidade e aqueles que bebem água, em vez de bebidas esportivas que contêm sódio (Noakes, 1998; Sandell e col., 1988; Speedy e col., 1999). Os sintomas da hiponatremia dependem da gravidade do déficit de sódio. A concentração normal de sódio no soro varia entre 135 e 145 mEq/L e a gravidade da hiponatremia pode ser graduada de leve a grave.


-Leve (sódio = 131-134 mEq/L): geralmente sem sintomas.


- Moderada (sódio = 126-130 mEq/L): pode causar fraqueza, náuseas, fadiga, confusão e "phantom running" (movimento involuntário e persistente das pernas em descanso).


- Grave (sódio < 126 mEq/L): pode causar coma, convulsões e até mesmo a morte.


O exame de um atleta com hiponatremia (de acordo com resultados laboratoriais) geralmente aponta temperatura retal menor que 39° C, além de pressão arterial e freqüência cardíaca estável. Costuma haver redução do nível de consciência quando a hiponatremia é de moderada a grave. A hiponatremia causada pela sobrecarga de líquidos pode fazer com que o atleta pareça inchado, e anéis, relógio, sapatos e pulseiras de identificação para corrida costumam ficar apertadas. Esses atletas costumam apresentar um ganho significativo de peso durante a prova. Entretanto, algumas vezes os atletas com hiponatremia podem estar desidratados e apresentar volemia diminuída, provavelmente devido à reposição apenas parcial da perda de suor com líquido hipotônico. Esse tipo hipovolêmico de hiponatremia parece ser mais comum em atletas mais rápidos.


Há estudos que sugerem que se deve pressupor que há hiponatremia se a temperatura retal, pressão arterial e freqüência cardíaca forem normais no atleta que apresentou o colapso e se houver redução do nível de consciência (Holtzhause & Noakes, 1997, 1998; Mayers & Noakes, 2000). Em atletas com sobrecarga de líquidos, a administração de volumes elevados de líquido intravenoso deve ser evitado porque esse tratamento pode causar insuficiência cardíaca congestiva e até mesmo o óbito. Quando o atleta parecer desidratado e houver suspeita de hipovolemia, a administração intravenosa de soro fisiológico consegue repor tanto a água quanto o sal. Em casos muito graves, a solução hipertônica (3-5%) pode ser infundida lentamente (menos que 50 mL/h) com monitoração cuidadosa do estado do atleta. A maioria dos atletas com hiponatremia grave provocada pelo exercício consegue se recuperar espontaneamente depois de 1-3 horas de repouso e de cuidados de apoio. A excreção de volumes elevados de urina límpida geralmente antecede a recuperação.


Insolação


A insolação é provocada pela falha do nosso organismo em regular a temperatura no calor. É um evento raro e facilmente tratado quando diagnosticado precocemente, mas com altas taxas de morbidade e mortalidade quando não é tratada adequadamente ou quando o diagnóstico é tardio. O sintoma característico da insolação é uma mudança drástica na função mental, por exemplo, perda ou redução do nível de consciência ou de estimulação mental (Holtzhause & Noakes, 1997; Noakes, 1998). Atletas com insolação costumam apresentar colapso ou agir de maneira inadequada. Finalmente, há uma progressão até o coma e geralmente há o desenvolvimento da rabdomiólise (quebra de tecido muscular) e insuficiência renal, provocando a morte.


Atletas com insolação costumam apresentar colapso antes do término de um evento, geralmente em corridas curtas mas bastante velozes. Atletas com peso maior apresentam risco aumentado. Como os atletas que participam de provas de endurance prolongado correm a uma velocidade menor, geralmente armazenam menos calor corporal (se a umidade for relativamente baixa), portanto, a insolação é menos comum. Os fatores de predisposição incluem temperatura e principalmente umidade elevada, velocidade elevada na corrida, história de doenças provocadas pelo calor, maior peso corporal e provavelmente desidratação com depleção de volume sangüíneo. Vômitos e diarréia costumam ser sintomas na instalação da insolação. O resultado de exame mais característico na insolação é a temperatura retal acima de 40° C. Além disso, atletas com insolação costumam apresentar freqüência cardíaca elevada, respiração rápida e hipotensão. Na insolação clássica, o indivíduo deixa de transpirar e parece quente e seco, mas na insolação associada à atividade física, a vitima costuma transpirar abundantemente.


O tratamento da insolação é o resfriamento ativo, o mais rápido possível. A taxa de sobrevivência é de 90-95% quando o resfriamento é realizado rapidamente. Entretanto, se for tardio e a temperatura ultrapassar 42° C, a mortalidade atinge 80% (Holtzhause & Noakes, 1997, 1998; Noakes, 1988). A insolação é uma emergência real e pode ser considerada como um "ataque do calor", no qual cada minuto de atraso no tratamento reduz a probabilidade de uma boa evolução de maneira significativa.


A medida mais eficaz para se conseguir um esfriamento rápido do atleta superaquecido é a imersão em água gelada. Pode-se conseguir isso mais facilmente usando uma pequena banheira plástica ou uma piscina com gelo e água. A imersão por 5-10 minutos costuma ser suficiente para resfriar o atleta com insolação. O resfriamento deve continuar até que a temperatura retal fique abaixo de 38° C ou até que o atleta comece a tremer. Uma alternativa menos eficaz é a aplicação de gelo no pescoço, na virilha e nas axilas da vítima da insolação. Borrifar água gelada e usar um ventilador também podem ser medidas auxiliares. Além disso, líquidos gelados por via intravenosa podem ajudar a resfriar o indivíduo com insolação.


Hipoglicemia


A hipoglicemia é a causa menos frequente do colapso associado ao exercício e costuma acontecer quando a produção de glicose pelo fígado diminui depois que há uma depleção dos estoques de glicogênio (Holtzhause & Noakes, 1997; Sandell e col., 1988). Isso costuma ser observado em eventos de distância com duração acima de quatro horas. Atletas que deixam de ingerir carboidratos suficientes (sólidos e líquidos) antes e durante o evento correm o risco de apresenta-la. A hipoglicemia é mais observada em atletas diabéticos e em indivíduos com transtornos alimentares. Os sintomas da hipoglicemia incluem tremores no corpo, fraqueza, ansiedade, sudorese, fala arrastada e até o coma. É tratada com administração de glicose (bebidas esportivas, sucos, doces concentrados ou tabletes de glicose), o que promove alívio imediato dos sintomas. Atletas hipoglicêmicos que se encontram inconscientes ou não respondem devem receber solução intravenosa de glicose (D50) ou uma injeção de glucagon para que a glicemia aumente imediatamente.


Hipotermia


A hipotermia é uma causa rara de colapso em atletas, mas pode ocorrer quando um atleta permanece muito tempo em ambiente frio e não consegue gerar calor corporal suficiente para compensar a perda de calor para o meio-ambiente. A maioria dos casos é observada durante a prova de natação em um triatlhon, quando realizada em águas geladas ou quando as provas de endurance são realizadas no clima frio e úmido, ou ainda em esportes de inverno.


A gravidade da hipotermia é medida pela temperatura retal. É considerada leve quando a temperatura retal está entre 32-35° C e costuma ser acompanhada pela confusão leve e tremor intenso. O tratamento inclui proteger o atleta do ambiente e remover as roupas molhadas, seguido de aquecimento passivo com cobertores e ingestão de líquidos quentes. Quando a temperatura retal é menor que 32° C, o tremor (que gera calor corporal) costuma parar; se isso acontecer, o atleta deve ser imediatamente transferido para um hospital para receber medidas mais ativas de aquecimento, tais como a administração de líquidos quentes por via intravenosa, oxigênio aquecido ou diálise peritoneal usando líquidos aquecidos. Atletas com hipotermia grave, com temperatura retal menor que 27,8ºC podem parecer estar mortos, e só sobreviverão após o reaquecimento.


RESUMO


O colapso associado ao exercício é relativamente comum em provas de endurance, principalmente quando há temperatura e umidade elevadas. A causa costuma ser benigna em atletas que apresentam o problema depois de terminar um exercício sem perder a consciência, com sinais vitais normais e com estado mental normal. Pode-se suspeitar de uma causa mais grave quando isso acontece durante a realização do exercício, quando os sinais vitais forem instáveis ou quando houver alteração da consciência. O diagnóstico adequado e precoce é essencial a esses atletas, para que se possa iniciar o tratamento adequado. A maioria dos casos pode ser tratado com repouso e líquidos orais. Por outro lado, as causas mais graves do mal-estar, ex., quando associado à hiponatremia e insolação, podem causar lesões graves em órgãos e mesmo óbito se não for tratado rápida e adequadamente. É essencial que aqueles que oferecem os cuidados médicos nos eventos de endurance ou os demais envolvidos nos cuidados com o atleta conheçam o tratamento adequado desse problema, para que se possa evitar um resultado provavelmente trágico.


Sports Science Exchange 44


SUPLEMENTO


ATLETAS DE ENDURANCE QUE APRESENTAM COLAPSO


É relativamente comum observarmos atletas sentirem-se mal em eventos de endurance, principalmente quando o calor e a umidade são elevados. Se um atleta sente-se mal após o término do evento e permanece consciente com freqüência cardíaca, pressão arterial, respiração e quadro mental normais, isso geralmente não é sério e o colapso é provavelmente causado pela exaustão, desidratação moderada que contribui para uma queda moderada na pressão arterial enquanto o atleta está em pé ou cãibras musculares.


Deve-se suspeitar de uma causa mais perigosa em atletas que apresentam colapso durante as provas ou treinos, que apresentam sinais vitais instáveis e/ou ficam inconscientes ou apresentam comportamentos inadequados (Tabela S1).


TABELA S1. Causas comuns do colapso durante o exercício


Causas não-graves


- Exaustão


- Desidratação


- Hipotensão arterial quando estiver em pé


- Cãibras musculares


Causas graves


- Baixa concentração sangüínea de sódio (hiponatremia)


- Insolação


- Baixa concentração sangüínea de açúcar (hipoglicemia)


- Baixa temperatura corporal (hipotermia)


- Parada cardíaca


- Diversas outras situações médicas, incluindo convulsões, hemorragia cerebral e coma diabético


O diagnóstico adequado e precoce é essencial em atletas que apresentam colapso para que se possa iniciar o tratamento adequado. A tabela 2 mostra as características comuns de colapso não-grave ou benigno e do colapso potencialmente perigoso. É principalmente importante que a equipe médica consiga ter acesso rápido a resultados laboratoriais com relação aos níveis de açúcar e sódio sérico. Dependendo de quão quanto for baixa for a concentração de sódio, os resultados podem ser graves (Tabela S3).


TABELA S2. Classificação da gravidade em atletas que apresentam colapso


TABELA S3. Sintomas da hiponatremia


A maioria dos casos do colapso pode ser tratado com repouso, elevação das pernas e do quadril e administração de líquidos via oral, principalmente soluções de reidratação oral ou bebidas esportivas que contêm carboidratos e sódio. Por outro lado, as causas mais graves do colapso, ex.: quando associado à hiponatremia e à insolação, pode causar danos graves aos órgãos e mesmo a morte, se não for tratado rapidamente e de maneira adequada.


Hiponatremia - deve-se suspeitar de hiponatremia se a temperatura retal, pressão sangüínea e freqüência cardíaca forem normais em um atleta que apresentou colapso e redução do grau de consciência. Em atletas que parecem ter sobrecarga de líquidos, a administração de muito volume de líquido intravenoso deve ser evitada porque esse tratamento pode causar insuficiência cardíaca congestiva e até mesmo óbito. Atletas que parecem desidratados e nos quais se suspeita que haja redução do volume sangüíneo, a administração intravenosa de soro fisiológico pode repor tanto o sal quanto a água. Em casos muito graves, a solução hipertônica (3-5%) pode ser infundida lentamente (menos que 50 ml.h-1) com monitoramento detalhado da condição do atleta.


Insolação - deve ser considerada uma hipótese se a temperatura retal for superior a 40° C. Além disso, os atletas com insolação geralmente têm aumento da freqüência cardíaca, respiração rápida e baixa pressão arterial. Na insolação associada à atividade esportiva, a vítima geralmente apresenta sudorese profusa.


O tratamento para a insolação é o resfriamento ativo por imersão em banheira ou piscina com água gelada assim que possível. A imersão deve durar aproximadamente 5-10 minutos até que a temperatura retal seja menor que 38° C ou que o atleta comece a tremer. Se o resfriamento demorar e a temperatura superar 42° C, a mortalidade chega a 80%. A insolação é uma verdadeira emergência e pode ser considerada um "ataque de calor", em que cada minuto de atraso no tratamento reduz, de maneira significativa, a probabilidade de um bom prognóstico para o atleta.


Hipoglicemia - seus sintomas incluem tremores do corpo, fraqueza, ansiedade, sudorese, fala arrastada e finalmente o coma. É tratada com a administração de glicose (bebidas esportivas, suco, doces, concentrados ou tabletes de glicose), que oferece alívio imediato dos sintomas. Atletas inconscientes ou que não respondem devem receber soro glicosado por via intravenosa (D50) ou uma injeção de glucagon para aumentar os níveis da glicemia rapidamente.


Hipotermia - é considerada leve se a temperatura retal estiver na faixa de 32-35°C. O atleta com hipotermia geralmente apresenta confusão leve e tremores intensos. O tratamento deve incluir proteger o atleta do meio-ambiente e tirar a roupa molhada, seguida do aquecimento passivo com cobertores e com a ingestão de líquidos quentes. Quando a temperatura retal atinge valores abaixo de 32,2º C, os tremores (que geram o calor do organismo) param; se isso acontecer, o atleta deve ser imediatamente transferido para um hospital para receber outras medidas mais ativas de aquecimento.


CONCLUSÃO


É essencial que os profissionais responsáveis pelos cuidados médicos em eventos de endurance ou os que cuidam dos atletas conheçam o tratamento adequado do colapso para evitar uma possível evolução trágica.


As informações aqui descritas pretendem abranger o público profissional, incluindo pesquisadores, treinadores, médicos, nutricionistas e outros profissionais da área da saúde que necessitam de um entendimento fundamental da fisiologia humana.


Atenciosamente / Mit freundlichem Gruß / Kind regards,

fonte:  http://www.gssi.com.br/  









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